quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Valores, diversidade e formação de professores

Você já pensou no que faria se...

...pudesse ler mentes?
...mandasse um email com fotos constrangedoras por engano?
...pudesse ficar invísivel?
...ninguém pudesse te ver? E o que nunca faria enquanto te veem?
...fosse um hacker?

Provavelmente suas respostas vão suscitar elementos reguladores como a vergonha, o olhar do outro, culpa, desconforto e, por outro lado, elementos que te libertariam de tais regulações. É interessante observar que sempre nos colocamos numa situação a partir do olhar do outro, caso ninguem esteja vendo faço o que tiver vontade, mas se for observado ajo como esperem que se aja.
Foucault traz a questão da vigilância com bastante ênfase e sustenta que por meio da punição que instrumenta o controle social, internalizamos as regras e exercemos um autocontrole. Como já vimos, nesse caso estamos no estado de heteronomia, que supõe uma supressão da diversidade.

Mas em que isso me afeta enquanto professor?

Essa vigilância se dá em todos os lugares, inclusive nas escolas e nos cursos superiores. Há um discurso bastante forte entre os professores que apregoa: "Quando entro na minha sala, fecho a porta e faço o que quero!"
Na verdade, é muito tarde para se fazer o que quer depois de ter passado toda a vida sob o controle social e a coação. Na verdade, não tão tarde se pararmos pra refletir sobre isso buscando, principalmente não reproduzir essa vigilância mutiladora na nossa prática.

Mas de que maneira nossa formação nos impele a mudar de concepção?

Voltando à diversidade...outro discurso muito recorrente é que o professor tem que lidar com a diversidade dos alunos. Mas onde ele "aprende" isso? Os cursos de formação respeitam a diversidade de seus sujeitos? Ou pelo menos convivem com ela de modo razoável? Ou consideram que todos são iguais, partem do mesmo ponto e vão chegar ao mesmo lugar?
Não só com relação à diversidade, mas com relação, por exemplo ao construtivismo, à integração do lúdico à prática pedagógica e, mesmo à transversalidade. Como vou considerar meu aluno como protagonista de sua história, da construção de seu conhecimento se nunca tive essa experiência durante minha formação? Como vou aprender inserir o lúdico em minha prática sem nunca ter tido uma aula em que isso acontecesse? Como vou saber trabalhar com a transversalidade sem fragmentar o tema e o conteúdo se nunca assisti ou fui sujeito de uma aula deste tipo?

Penso que o primeiro passo está dado, a reflexão foi iniciada, as concepções revisitadas e questionadas, mas há muito ainda o que fazer. Principalmente, compartilhar experiências e opiniões, leituras e pontos de vista, buscando um saber da ação pedagógica, um dos fundamentos da identidade profissional do professor.








Afinal, quem queremos formar?

O que é Educação para nós?




quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Publicidade infantil e drogas


Como já começamos a discutir há pouco, as crianças têm sido o grande alvo da publicidade, visto seu poder de perssuasão junto aos adultos, nova entre dez pais dizem que a preferência de suas crianças por certas marcas pesa de forma relevante na hora da compra. De acordo com a revista Psique nº33, crianças e adolescentes capitalizam atualmente cerca de 1,8 trilhão de dólares por ano.
Entre os recursos mais utilizados está a participação de personagens animados ou ícones infantis; para a criança que ainda não consegue distinguir fantasia da realidade isso é muito relevante. São vários os perigos acarretados por esse ciclo vicioso, entre eles a obesidade aparece com grande destaque. Em pesquisa realizada em Porto Alegre, chegou-se ao número de 35,8% de crianças de até 12 anos com sobrepeso, sendo que, destes 14% já são obesos.
Outro efeito é a agressividade por não conseguir o que quer. Além disso tem-se a descartabilidade dos produtos. A psicóloga Andréia Mendes dos Santos afirma que "elas desenvolvem uma forma de relação com os brinquedos, que serve de ensaio para outros vínculos afetivos. Se essa experiência perde importância, o mesmo pode ocorrer com as relações interpessoais que podem se caracterizar pela superficialidade".
E o pediatra Evandro Roberto Baldacci em entrevista à rádio Jovem Pan é taxativo ao afirmar que criança sem limites é candidata ao uso de drogas. “ Criança sem limites vai ter dificuldade no aprendizado, vai ter dificuldade em se colocar socialmente de uma forma adequada e muita facilidade para entrar em caminhos muito ruins como o uso de drogas. Começa a tomar bebida alcoólica e, em seguida, experimenta outras drogas, como forma de agredir a família.”
O Instituo Alana traz importantes contribuições para o combate ao consumo infantil e para a valorização da criança enquanto tal.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A imagem da menina hoje e a alimentação

A criança hoje em dia é bombardeada por propagandas, produtos e esteriótipos em que deve se enquadrar. Especialmente a menina é alvo de expectativas e cobranças, na verdade está naturalizado que seja uma mulher em miniatura.

Não existe mais aquela brincadeira divertida de se vestir como a mãe, usando suas roupas, sapatos, maquiagem...pra que vestir as roupas e sapatos desproporcionais da mãe se ela tem roupas iguais e de seu tamanho?

Além de não haver mais uma ruptura rígida entre o mundo adulto e o infantil, as crianças assumem um vida tão atarefada e estressante quanto a dos pais. Com isso vêm os problemas da erotização precoce e, principalmente, dos transtornos alimentares.

Tendo em vista os padrões de beleza perseguidos pelos mães, as meninas buscam cada vez mais cedo alcançá-los. Voltamos à discussão sobre afetividade e consumismo. Imersas numa sociedade que valoriza o TER em detrimento do SER, desde cedo as crianças tornam-se consumistas. E assim, crescem valorizando o que podem comprar, mas que nunca vai preencher o vazio deixado pela desconsideração da própria identidade e sentimentos.

Surgem, geralmente da baixa auto-estima e decorrente busca de aceitação, transtornos alimentares como bulimia e anorexia.

Cabe à escola, tratar dos hábitos alimentares, trazendo à tona os prejuízos de um descuido com a alimentação e, mais do que isso apresentar os contra-valores que ponham em confronto as concepções materialistas de boa parte das crianças.


Penso que o mais importante, é deixar a criança ser criança simplesmente. Sem antecipar o que certamente viverá com o passar dos anos...



quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Afetividade e Consumismo

A impressão que temos é que cada vez mais sentimos menos...talvez por que nos acostumamos a ver cenas chocantes e, assim já não nos chocamos tanto; talvez por que não temos tempo de parar e pensar na gravidade daquilo que estamos vivenciando ou vendo. Seja qual for o motivo, parece fato que nossos sentimentos estão um pouco congelados.
Qualquer seja a função que se exerça isso é um ponto importante a ser trabalhado, mas em se tratando de educadores, é um ponto primordial! Ainda que não queiramos nosso sentimentos ou a falta deles (bem como as concpeções e valores de que já falei anteriormente) é transmitida àqueles com quem convivemos e, consequentemente a nossos alunos. Como bem coloca Soares, "as manifestações emocionais no corpo e na mente interferem no desempenho profissional do educador". E como vimos anteriormente, o vínculo afetivo é uma das bases para respeito.
Daí a importância de se trabalhar a afetividade não só nas salas de aula com as crianças e adolescentes, mas nas salas de aula dos cursos de formação de professores. Tanto para o bem estar pessoal, que se reflete na dedicação ao outro; como para o trabalho em sala de aula.

Retomando esta questão de sentimentos, mas pensando agora na prática escolar, cabe debater outro tema, o consumismo. Buscando uma definição científica temos que "é uma compulsão caracterizada pela busca incessante de objetos novos sem que haja necessidade dos mesmos". (Fonte: Mundo Educação) Essa neofilia, paixão pela novidade, tem feito verdadeiros escravos que comprometem seus salários e mesmo sua condição de vida para manter-se na "crista da onda". A verdade é que, de modo geral essa compulsão busca preencher um vazio que objetos não podem suplantar - o vazio de si.


E voltamos à discussão inicial...não sentimos mais...e em lugar disso, buscamos coisas que sintam por nós!
Assim, me parece clara a importância de um trabalho da afetividade, não só para lidar com os sentimentos mas para promover o autoconhecimento e evitar, desse modo um consumo desenfreado que deixa sempre uma lacuna a ser preenchida e, ademais destrói nosso meio ambiente.

Para aprofundar esta última discussão que trata dos danos do consumismo ao meio ambiente, sugiro estes vídeos.
http://mais.uol.com.br/view/65e37s9h2obw/a-historia-das-coisas--em-ingles-cap-1-intro-040266E0C15386?types=A&
http://mais.uol.com.br/view/65e37s9h2obw/a-historia-das-coisas--em-ingles-cap-2-extracao-040268E0C15386?types=A&
http://mais.uol.com.br/view/65e37s9h2obw/a-historia-das-coisas--em-ingles-cap-3--producao-04026AE0C15386?types=A&
http://mais.uol.com.br/view/65e37s9h2obw/a-historia-das-coisas--em-ingles-cap-4-distribuicao-04026CE0C15386?types=A&
http://mais.uol.com.br/view/65e37s9h2obw/a-historia-das-coisas--em-ingles-cap-5-consumismo-040270E0C15386?types=A&
http://mais.uol.com.br/view/65e37s9h2obw/a-historia-das-coisas--em-ingles-cap-6-descarte-040272E0C15386?types=A&
http://mais.uol.com.br/view/65e37s9h2obw/a-historia-das-coisas--em-ingles-cap-7-um-outro-jeito-040260E4C15386?types=A&

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Direitos Humanos e Ética



Como nos apropriamos das regras? De que maneira elas são construídas?

Em seus estudos Piaget não encontrou uma universalidade de desenvolvimento no que concerne a seu aspecto moral. O que se coloca é que existe um percurso que se dá a partir da descoberta do Outro/diminuição do egocentrismo, até que as regras sejam internalizadas e respeitadas de maneira autônoma.
Primeiro nos encontramos num estado de anomia, ou ausência de regras. Em seguida, por meio de relações de coação e respeito unilateral, as regras são construídas/transmitidas. E, assim passa-se a um estado de heteronomia, em que existem regras mas elas são externas ao indivíduo. O que ainda não se tem certo é o modo como se dá a passagem deste último para o próximo estado, a autonomia.
É importante ressaltar a diferença entre obediência e respeito. Esta primeira baseia-se no medo, enquanto que o último, segundo Bovet, decorre do medo mas também do vínculo afetivo, articulados numa relação dialética. E a essência da moralidade está calcada no respeito às regras.
90% das pessoas se mantêm no estado de heteronomia/passividade porque estão acostumadas à coação. Piaget sustenta que para superar este quadro deve-se dar vazão às relações de cooperação baseadas no respeito mútuo e na reciprocidade, proporcionando, assim o descentramento de si.


E o professor?


Volto a afirmar a importância de que o docente reflita sobre seus próprios valores e concepções, pois estes influem diretamente sua prática (democrática, autoritária, anárquica) que, por sua vez
influencia a construção dos valores por aqueles que se vêem neste ambiente.
Outro ponto importante é considerar que os valores, ainda que universalmente desejáveis, são fruto da cultura em que nós vivemos e, para outras culturas, com visões de mundo distintas podem não ser válidos ou aceitáveis.

Trazendo um exemplo de trabalho baseado na democracia, sugiro este vídeo sobre assembléias escolares.

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=51294


Para entender melhor...

ARAUJO, U. F. & AQUINO, J. G.

Os Direitos Humanos em sala de aula:

a ética como tema transversal. São Paulo:

Moderna, 2001.



quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A construção de valores e a dimensão afetiva

Comecemos com uma indicação de leitura:


Com base na análise do conto realizada no livro Conto de Escola (1999), temos que esta produção literária nos traz a essência da realidade humana, permeada por conflitos de natureza moral. De maneira geral, transparece no texto a importância dos sentimentos no funcionamento psíquico e moral do ser humano, especialmente, do sentimento de vergonha. Vamos estão a este tema.

Sentimentos como reguladores morais

Antes de iniciar a discussão, uma pergunta...O que são valores?
De acordo com Piaget, referem-se a trocas afetivas realizadas entre o sujeito e o ambiente exterior, organizados a partir dos julgamentos de valor empreendidos pelo próprio sujeito.
Dependendo dos valores com os quais o sujeito constrói sua identidade e de seu "posicionamento" central ou periférico, aparecerão os sentimentos morais.
Assim, temos que valor é o que ao ferir o indivíduo, o faz sentir vergonha, culpa e indignação.
Tais sentimentos morais exercem então o papel de regular as relações intra e interpessoais e são experienciados quando o sujeito age contra valores centrais em sua identidade.

E o professor?

Cabe ao professor, na sua prática diária apresentar contra-valores e trazer ao conhecimento dos alunos os valores universalmente desejáveis (presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Estatuto da Criança e do Adolescente), proporcionando o conhecimento do outro e de si e favorecendo o respeito e a confiança.
É importante ainda a realização de um trabalho sistematizado com sentimentos e afetos, rompendo com concepções educacionais fragmentárias, posto que o sujeito se compõe das bases cognitiva, biológica, sócio-cultural e também afetiva.
Outro aspecto importante é a questão de, com essa prática, promover o autoconhecimento em que se objetiva a construção de processos de auto-regulação, permitindo ao sujeito dirigir a própria conduta, o que se traduz na tão preconizada autonomia.

E o que a escola tem feito?




Sugestão de trabalho com valores na sala de aula:


Para entender melhor...

ARAÚJO, Ulisses F. Conto de escola.
São Paulo: Moderna, 1999.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Planejando uma aula transversal - um primeiro esboço

Depois de ter entendido um pouco melhor a transversalidade, é hora de tentar colocá-la em prática!Como várias cabeças pensam melhor que uma só, isto foi feito em grupo. Surgiram muitas idéias, temas e, também vários conflitos.
Mas antes mesmo de começar, é preciso se fazer uma questão!

O que é importante em uma aula transversal?
1º ponto: articulação cotidiano-ciência
É importante, em primeiro lugar que favoreça ou promova a integração entre aquilo que se vive fora da escola e aquilo que deverá ser aprendido nela. Com um adendo essencial, não basta trazer um tema que perpasse a vida do aluno, é necessário que este tema seja realmente relevante pra ele. Portanto, é imprescindível que se conheça o sujeito do aprendizagem e que ele seja ouvido, para, a partir de uma situação real trabalhar o conteúdo previsto.

2º ponto: conteúdo como meio e não como fim
Como já foi ressaltado anteriormente, a disciplina ou o conteúdo a ser trabalhado deve ser um meio de promoção de uma formação integral e não um fim em si mesmo. Ou seja, o tema transversal não justifica a aquisição de um conhecimento, senão que determinados conhecimentos favorecem a compreensão de situações vivenciadas, promovendo o desenvolvimento ético e moral.

3º ponto: todos são (devem ser) protagonistas
Retomando a base epistemológica da transversalidade, vemos que é de caráter construtivista. Assim, cada sujeito constrói (é capaz de construir) seu próprio conhecimento, sendo auxiliado pelo professor, que desperta nele esta capacidade. Tem-se então que o professor não ocupa o lugar de detentor do saber e deve envolver a todos no processo de aprendizagem que levará a cabo.
Postos esses pontos que considero essenciais, vale retomar o aspecto prático do planejamento de uma aula. A partir da observação e da escuta, seleciona-se o(s) tema(s) transversal(is) e, em seguida os conteúdos que podem ser trabalhados sob a perspectiva escolhida. Daí decorrem os objetivos que se pretende alcançar e que devem estar bem definidos. O próximo passo é pensar na metodologia, sem prescindir da participação de todos durante o processo.

1º ESBOÇO
Tema transversal: afetividade/sentimentos
Conteúdo: Português (literatura, produção de texto, gêneros textuais) e Arte ( música, artes gráficas)
Objetivos: sensibilização, auto-conhecimento, humanização (respeito pelo sentimento do outro)
Metodologia:
1. Leitura de sensibilização (posterior questionamento do grupo)
2. Sensibilização com música
3. Sensibilização com imagem
4. Leitura de outro gênero textual
5. Expressão do grupo com diferetes instrumentos
6. Esquematização dos conteúdos: diferenciação dos gêneros textuais e artísticos
7. Embasamento teórico - autoconhecimento (conclusão)


Para entender melhor...
PUIG, Josep Maria. Ética e valores: métodos
para o ensino transversal. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 1998.