quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Direitos Humanos e Ética



Como nos apropriamos das regras? De que maneira elas são construídas?

Em seus estudos Piaget não encontrou uma universalidade de desenvolvimento no que concerne a seu aspecto moral. O que se coloca é que existe um percurso que se dá a partir da descoberta do Outro/diminuição do egocentrismo, até que as regras sejam internalizadas e respeitadas de maneira autônoma.
Primeiro nos encontramos num estado de anomia, ou ausência de regras. Em seguida, por meio de relações de coação e respeito unilateral, as regras são construídas/transmitidas. E, assim passa-se a um estado de heteronomia, em que existem regras mas elas são externas ao indivíduo. O que ainda não se tem certo é o modo como se dá a passagem deste último para o próximo estado, a autonomia.
É importante ressaltar a diferença entre obediência e respeito. Esta primeira baseia-se no medo, enquanto que o último, segundo Bovet, decorre do medo mas também do vínculo afetivo, articulados numa relação dialética. E a essência da moralidade está calcada no respeito às regras.
90% das pessoas se mantêm no estado de heteronomia/passividade porque estão acostumadas à coação. Piaget sustenta que para superar este quadro deve-se dar vazão às relações de cooperação baseadas no respeito mútuo e na reciprocidade, proporcionando, assim o descentramento de si.


E o professor?


Volto a afirmar a importância de que o docente reflita sobre seus próprios valores e concepções, pois estes influem diretamente sua prática (democrática, autoritária, anárquica) que, por sua vez
influencia a construção dos valores por aqueles que se vêem neste ambiente.
Outro ponto importante é considerar que os valores, ainda que universalmente desejáveis, são fruto da cultura em que nós vivemos e, para outras culturas, com visões de mundo distintas podem não ser válidos ou aceitáveis.

Trazendo um exemplo de trabalho baseado na democracia, sugiro este vídeo sobre assembléias escolares.

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=51294


Para entender melhor...

ARAUJO, U. F. & AQUINO, J. G.

Os Direitos Humanos em sala de aula:

a ética como tema transversal. São Paulo:

Moderna, 2001.



quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A construção de valores e a dimensão afetiva

Comecemos com uma indicação de leitura:


Com base na análise do conto realizada no livro Conto de Escola (1999), temos que esta produção literária nos traz a essência da realidade humana, permeada por conflitos de natureza moral. De maneira geral, transparece no texto a importância dos sentimentos no funcionamento psíquico e moral do ser humano, especialmente, do sentimento de vergonha. Vamos estão a este tema.

Sentimentos como reguladores morais

Antes de iniciar a discussão, uma pergunta...O que são valores?
De acordo com Piaget, referem-se a trocas afetivas realizadas entre o sujeito e o ambiente exterior, organizados a partir dos julgamentos de valor empreendidos pelo próprio sujeito.
Dependendo dos valores com os quais o sujeito constrói sua identidade e de seu "posicionamento" central ou periférico, aparecerão os sentimentos morais.
Assim, temos que valor é o que ao ferir o indivíduo, o faz sentir vergonha, culpa e indignação.
Tais sentimentos morais exercem então o papel de regular as relações intra e interpessoais e são experienciados quando o sujeito age contra valores centrais em sua identidade.

E o professor?

Cabe ao professor, na sua prática diária apresentar contra-valores e trazer ao conhecimento dos alunos os valores universalmente desejáveis (presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Estatuto da Criança e do Adolescente), proporcionando o conhecimento do outro e de si e favorecendo o respeito e a confiança.
É importante ainda a realização de um trabalho sistematizado com sentimentos e afetos, rompendo com concepções educacionais fragmentárias, posto que o sujeito se compõe das bases cognitiva, biológica, sócio-cultural e também afetiva.
Outro aspecto importante é a questão de, com essa prática, promover o autoconhecimento em que se objetiva a construção de processos de auto-regulação, permitindo ao sujeito dirigir a própria conduta, o que se traduz na tão preconizada autonomia.

E o que a escola tem feito?




Sugestão de trabalho com valores na sala de aula:


Para entender melhor...

ARAÚJO, Ulisses F. Conto de escola.
São Paulo: Moderna, 1999.